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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Romance imperfeito



Era uma sexta-feira qualquer quando Ela resolveu sair com as amigas. A balada que escolheram era simples e representava um tom de agitação no ar. Nada de música sertaneja, velha, nova ou universitária. Partiram mesmo para a boate mais sonorizada da cidade. Era noite de trance, de batidas fortes e cadenciadas que fazem o corpo e a mente vibrarem. Enquanto os leigos chamam a música de “tuch tuch”, Ela a conhecia como psy. Só queria dançar em uma pista banhada de luzes explosivas ao som alucinante do DJ. Ninguém podia segurá-la. Não morava com os pais, tinha dinheiro e estava solteira. Simples assim.


Ele também não ficou em casa em plena sexta-feira. Reuniu-se com amigos e partiu para as ruas. Todos socados em um Gol prata de capô amassado. Mesmo assim, estavam convencidos de serem os leões da selva urbana. Pararam no posto, compartilharam o custo do combustível e compraram umas “brejas”. Já meio embriagado e achando-se dono da razão, Ele pegou o volante e partiu com o bando para uma balada de música eletrônica. Não parou em blitz e não bateu em outro veículo, antes que os incautos acreditem ser este um conto moralista.


Estavam ali, os dois, Ela e Ele, no mesmo lugar, na mesma hora, na mesma sintonia. O álcool subiu rápido e deixou Ele alegre, ora animado, ora eufórico. Ela já tinha tomado uma de suas pílulas e começava a sentir os efeitos psicodélicos do ambiente. Por obra do destino, ambos foram se aproximando graças ao empurra-empurra convencional dos recintos apertados. Bem pertinho do bar, onde Ele já devia mais dinheiro do que tinha, as duas almas gêmeas estiveram quase plugadas pela natureza. Bastava que os olhares se cruzassem para que a noite terminasse em paixão consumada.


Mas não aconteceu, antes que os incautos acreditem ser este um conto erótico. Os olhos não se cruzaram. O álcool impediu que Ele enxergasse com clareza a mulher que o faria feliz. Estava atordoado com a batida da música e ao sair precisou por pra fora o jantar. Acabou ficando sozinho mesmo. Saldo zero naquele fim de semana. Ela abandonou a consciência e se jogou em um universo de alucinações. Não se lembrava direito se havia agarrado alguém durante a noite. Apenas acordou no dia seguinte sozinha, sem ninguém para abraçá-la no começo da manhã.


Pois é, estavam prontos um para o outro. Toda a genética humana preparada para o momento. Todos os eventos se conectaram para que aquele singular encontro acontecesse. Mas o fato não aconteceu. Nunca foi fato. Não dá para supor um mundo em que as coisas não acontecem, exceto se você curte uma utopia regressiva. Alguns dizem que Ele e Ela não ficaram juntos por culpa das drogas. Outros falam que faltou sorte. Eu? Eu só acho que a coisa não aconteceu.






 

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