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domingo, 6 de novembro de 2011

Nosso vício pelas marcas

Ah, quero tênis Nike, computador Apple, Mercedez furiosa e um pote de sorvete Häagen-Dazs pra me deliciar no fim de semana. Mais, mais! Quero um sitcom da Warner pra me mijar de rir enquanto bebo Coca-Cola bem gelada e devoro um Big Mac com muita batatinha frita. Se for pra sair de casa, boto minha camisa Calvin Klein, só pra ter mais chances na baladinha. Não quero saber de genérico, nem remédio genérico, nem estilo de vida genérico. Sou filho da burguesia. Corre o pensamento liberal nas minhas veias e eu sou aquilo que as marcas me permitem ser. Minha vida é esta. Qual marca de rede social eu mais prefiro? Facebook, Twitter ou Google+? Orkut já era, faleceu de velhice, meu velho.


Não interessa, não quero nem saber. Eu defino o meu ritmo conforme nascem ou morrem as marcas. Não dou trégua para o obsoleto. Sou consumidor e pago bem. Não consumo produto, eu consumo ideias. Eu consumo marcas. Eu consumo conceito. Verde, vermelho ou azul. Danem-se as cores. Salgado, doce ou azedo. Danem-se os sabores. Bom, bonito ou barato? Dane-se o triplo B da classe média. Eu a xingo de medíocre, eu a xingo de “deselegante”. Desde criancinha vendo propaganda na TV. Desde adolescente vendo propaganda na internet. Desde sempre conquistado e fingindo conquistar. Correndo contra o tempo que meu Rolex me permite olhar.


Gosto de gente que vira marca. Metamorfose da carne em tela. Adoro saber o que meu ídolo usa. Espelho-me nas celebridades. O que o Anderson Silva está comendo agora? Burger King? E quem ele está comendo? O que a Gisele Bündchen usa para ficar tão bonita? São tantas marcas. As luzes da cidade não iluminam a medonha violência, mas o outdoor do Rodrigo Santoro. São os novos deuses do Olimpo e rezo no santuário deles, no shopping center. Lá gasto muito além do dízimo. Os sacerdotes deram cartão de crédito e parcelas a perder de vista.  


Mas fico puto quando dizem que não tenho personalidade. Odeio gente idealista, socialista, egoísta e pseudomarxista. Fico irritadinho, fico bem putinho. Como isso é possível? Sou um mosaico de figuras diferentes e aí mora minha individualidade. Fumo Marlboro e me barbeio com Gillette. Torço pro Timão ou torço pro Verdão. Eu adoro tudo o que vem de cima e odeio a minha própria criação. Eu nada crio, eu nada faço, eu nada tenho. Eu só consumo as marcas enquanto as marcas me consomem. Fato consumado.

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