Os sonhos de Mariana estavam despedaçados. Ela mais uma vez tentou, em vão, alcançar seus objetivos, mas fora impedida de continuar. Os obstáculos eram vários. Uma hora era a falta de grana, a outra era falta de tempo. Às vezes lhe faltava vontade somente. O universo não conspirava ao seu favor, ela acreditava. Bastaram alguns encontros mal resolvidos no decorrer da vida para dentro dela implodir uma bomba existencial.
Era ainda bastante jovem e não havia encarado grandes dissabores. Entretanto, já carregava no peito uma mágoa daquelas que só se sente em velhos amargurados. Ela desenvolveu o espetacular poder de desacreditar. Incrédula, impaciente e arrasada ela seguia a rotina qualquer. Queria acreditar ser vítima da depressão. Não era. Sua patologia chamava-se tolice mesmo.
Mariana não suportava culpar somente a si. Insistia também em atribuir aos outros as causas de seus fracassos. Se tivesse recebido uma educação melhor, se os amigos fossem mais confiáveis e os superiores mais humanos talvez as coisas tivessem sido diferentes. Mas a linha do tempo é impiedosa e não dá trégua para “se” nenhum. Tempo é o único recurso distribuído igualmente entre homens e mulheres. O passado é apenas um retrato, seja ele bom ou ruim.
Para Mariana era confortável lembrar sua história do ponto de vista trágico, ignorando lembranças felizes e todos os benefícios que recebera na infância burlesca. Acreditava mesmo que sua dor era um estilo original de vingança. Aspirava vingar-se de todos que não a apoiaram ou apoiaram poucamente.
Mariana era infeliz, pois acreditara ser incapaz de transformar desejos em realidade. Suas ambições transfiguravam-se em decepções tão rápido quanto um pensamento pode cruzar a imaginação. Na maioria dos casos ela nem arriscava alcançá-las. Desperdiçava oportunidades como se as possuísse em imensos lotes.
Não fora nada fácil, mas enfim ela admitiu não ter talento algum para caçar sonhos. Sofreu no começo, afinal enganaram-lhe toda a vida com falsos elogios à sua inteligência e beleza. No seu mundo se idolatra gente talentosa, não meros medíocres. Os livros de “autoajuda” na estante reforçavam o imaginário de que qualquer ser humano é dotado de competências inatas e bastava cada um descobrir as suas. Ela julgou mentirosas aquelas páginas e se convenceu de que passara da hora de encarar a realidade.
Mariana começou a querer concretizar objetivos e desistiu dos sonhos. Viver de distantes aspirações esmagava-a por dentro. O objeto de desejo não poderia ser uma alucinação, mas sim um ponto de chegada. Tem que ter fôlego e muita força de vontade para alcançá-lo. Convicta disso, Mariana seguiu em frente, convencida de só ter a perseverança como único dom. Não era tão brilhante como outras e outros a sua volta, mas poderia um dia superar a todos se seguisse de cabeça erguida e mente resoluta. Fez a experiência e agora almeja o topo. Seu maior objetivo é ser feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário